Aula tradicional perde espaço para alunos cada vez mais conectados

Terra – 26 de Junho de 2013

Com aulas longe da escola, método “invertido” mostra mudanças no ensino graças às tecnologias digitais que estão transformando a educação

 

O estudante abre de casa o vídeo no computador, no tablet ou no celular e pode fazer as lições no seu ritmo, além de fazer anotações Foto: Getty Images

O estudante abre de casa o vídeo no computador, no tablet ou no celular e pode fazer as lições no seu ritmo, além de fazer anotações

Foto: Getty Images

A professora April Burton explica as regras da gramática francesa ou detalha expressões e aspectos do vocabulário do idioma como faria normalmente em uma sala de aula, só que em um vídeo de cinco minutos que seus alunos assistem em casa, na frente de seus computadores ou através de seus smartphones.

No dia seguinte, eles farão os exercícios práticos na presença dela, de acordo com chamado método “invertido”, uma forma diferente de ensino, possível graças às novas tecnologias digitais que estão transformando a educação.

Burton, professora do Liceu Francês Francis Howell, em Cottleville, no estado americano do Missouri, decidiu lançar mão dessa estratégia pedagógica porque sentiu que “as coisas precisavam mudar”. “Havia tanto o que fazer com os estudantes, mas nunca tínhamos tempo”, conta.

Essa estratégia de ensino é popular nos Estados Unidos desde a postagem na internet dos vídeos da Academia Khan, que oferece gratuitamente milhares de cursos e exercícios online.

Para levar esta metodologia adiante, a professora precisou modificar um software e criar uma página na internet e um novo tipo de apresentações de PowerPoint. “Madame Burton”, como a professora passou a ser chamada no seu site, tem 14 anos de experiência e explica as regras da gramática ou detalha expressões e aspectos do vocabulário em um vídeo de cinco minutos que seus alunos assistem de casa.

“A aula tradicional deixou a sala de aula e os estudantes agora aproveitam o tempo em sala para fazer exercícios, pesquisas pessoais, trabalhos em grupo e apresentações”, disse.

No vídeo em que explica a conjugação do verbo “pouvoir” se pode ouvir sua voz, vê-la escrevendo no quadro e sublinhando as palavras. Para ensinar os adjetivos demonstrativos, a professora adiciona desenhos e fotos. “Na verdade, o que digo com um PowerPoint, antes seria explicado em aula”, explicou.

O estudante abre de casa o vídeo no computador, no tablet ou no celular e pode fazer as lições no seu ritmo, além de fazer anotações. Caso não entenda alguma coisa, pode perguntar no dia seguinte na sala de aula.

“Entro na sala, falo individualmente com cada estudante e vejo se há alguma pergunta. Passo a conhecê-los melhor, já que estou falando de igual para igual”, disse Burton.

“Em tese, há muito tempo se pode dizer aos estudantes: ‘Peguem o livro em casa, leiam este capítulo e venham fazer as tarefas na escola’, mas, se isso funcionasse, já seria feito há muito tempo. Porém, o vídeo é uma maneira muito mais fácil”, explica à AFP Pascal-Emmanuel Gobry, fundador da Noosphere, uma empresa de pesquisa voltada para a relação da educação com as novas tecnologias.

Os tablets, smartphones e reprodutores de música, cada vez mais sofisticados, podem armazenar milhares de aplicativos, softwares, conteúdo e imagens que podem ser fartamente usados na educação, para ampliar ou completar um curso online.

“As novas tecnologias mudaram o ensino, assim como a revolução industrial transformou a sociedade agrária”, explica Mike Kaspar, representante da Associação Nacional de Educação (NEA), o maior sindicato de professores dos Estados Unidos.

Para Gaspar, essas tecnologias mudaram “a forma de passar o dia na escola, de pensar a conveniência ou não de utilizar livros impressos ou digitais, vídeos, jogos, etc.”, acrescentou.

TeachThought, uma plataforma online para educadores, prevê que, até 2028, ocorrerá uma perda de docentes e escolas, com focos de resistência e “aumento das desigualdades socioeconômicas”, sobretudo pelo custo da tecnologia.

Burton destaca que as crianças de hoje são diferentes das gerações anteriores, que se sentavam em suas carteiras e recebiam as informações que os professores os davam. “Elas estão o tempo todo jogando, enviando mensagens de texto para os amigos, vendo vídeos no Youtube. Não se pode esperar que se sentem em uma sala de aula e escutem”, opina.

Mackenzie Klotzbach, de 15 anos, gosta das aulas “invertidas”. “Chego pronta para a aula, aprendo melhor”, disse. “O futuro, o passado, o imperfeito… fácil. Mas os pronomes dos complementos de objeto são um pouco difíceis!”

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