Software de correção de textos em escolas gera polêmica nos EUA

Programa usa inteligência artificial para avaliar redações e respostas discursivas 

JOHN MARKOFF, DO ‘NEW YORK TIMES’ – Publicado:
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A EdX criou software que usa inteligência artificial para avaliar redações e respostas discursivas<br />
Foto: GRETCHEN ERTL/NYT” width=”500″ height=”375″ /></p>
<div><figcaption>A EdX criou software que usa inteligência artificial para avaliar redações e respostas discursivas GRETCHEN ERTL/NYT </figcaption></div>
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<p>RIO – Imagine fazer uma prova, e, em vez de receber a nota de um professor algumas semanas mais tarde, clicar no botão “enviar” e receber o resultado imediatamente, tendo o trabalho corrigido por um programa de computador. E então, o sistema pede que você refaça o teste, de modo a tentar melhorar sua nota. Pois a EdX, uma empresa sem fins lucrativos fundada pela Universidade de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) para oferecer cursos pela internet, acaba de lançar o tal sistema, que estará disponível gratuitamente na web para qualquer instituição que queira usá-lo. O software usa inteligência artificial para avaliar redações e respostas discursivas, deixando professores livres para outras tarefas.</p>
<p>O novo serviço traz mais um ingrediente às discussões sobre o papel da tecnologia na educação. Ainda que sistemas automáticos de correção para testes de múltipla escolha sejam comuns, o uso de inteligência artificial para avaliar respostas discursivas ainda não recebeu o apoio de muitos educadores e está sujeito a críticas.</p>
<p>O engenheiro elétrico Anant Agarwal, presidente da EdX, prevê que o software de correção instantânea será uma ferramenta pedagógica bastante útil, permitindo que estudantes façam e refaçam testes e redações para melhorar o seu desempenho. Agarwal acredita que a tecnologia oferece vantagens distintas sobre o sistema tradicional das salas de aula, em que os alunos esperam dias, ou até semanas, até receberem suas notas.</p>
<p>— Há um enorme valor em ter um retorno instantâneo durante a aprendizagem. Os estudantes têm dito que aprendem mais dessa maneira.</p>
<p>Mas críticos argumentam que o sistema automatizado não substitui professores de carne e osso. Um dos seus opositores mais antigos, o pesquisador do MIT Les Perelman chamou a atenção dos Estados Unidos ao mostrar que redações sem sentido enganaram softwares do tipo e receberam notas altas. Ele também tem criticado estudos que se propõem a dizer que as máquinas podem corrigir tão bem quando seres humanos.</p>
<p>— Minha primeira e maior objeção para a pesquisa é que eles não tiveram qualquer teste válido estatisticamente comparando o software diretamente com pessoas.</p>
<p>Perelman está entre o grupo de educadores que lançou, no mês passado, uma petição contra o sistema de correção automática. O grupo, que se autodenomina “Profissionais Contra Máquinas que Corrigem Trabalhos de Estudantes em Avaliações de Alto Risco”, já recolheu quase duas mil assinaturas, incluindo astros como Noam Chomsky.</p>
<p>“Vamos encarar a realidade, computadores não podem ‘ler’. Eles não podem medir pontos essenciais da comunicação escrita: precisão, raciocínio, adequação de provas, bom senso, postura ética, argumento convincente, organização significativa, clareza e veracidade, entre outros”, diz a declaração do grupo.</p>
<p>Mas a EdX espera que seu software seja amplamente adotado por escolas e universidades. A empresa oferece gratuitamente aulas online de Harvard, do MIT e da Universidade da Califórnia, Berkeley. Este ano, serão incluídas aulas de Wllesley, Georgetown e da Universidade do Texas. Ao todo, 12 universidades são parceiras da EdX, que oferece certificados de conclusão de curso a já afirmou que planeja continuar sua expansão no ano que vem, incluindo escolas internacionais.</p>
<p>A ferramenta desenvolvida pela empresa precisa que um professor avalie as primeiras 100 redações ou provas. Então, o sistema usa uma variedade de técnicas para “aprender” e é treinado para avaliar os trabalhos automaticamente e quase que instantaneamente.</p>
<p>O software determina uma nota a partir do sistema de avaliação criado pelo professor, seja ele feito por letras ou por um ranking numérico. Ele também oferece um comentário geral, dizendo, por exemplo, se a resposta do aluno estava dentro dos tópicos necessários ou não.</p>
<p>Agarwal afirma que o sistema está se aproximando da capacidade humana de avaliação.</p>
<p>— É um aprendizado da máquina, ainda há um longo caminho pela frente. Mas ela já é boa o suficiente e as vantagens são enormes. Descobrimos que a qualidade das avaliações é similar à variação que existe entre cada instrutor — completa.</p>
<p>A EdX não é a primeira a usar tecnologia de avaliação automática, que já existe desde a criação dos computadores de grande porte, nos anos 1960. Hoje, diversas companhias oferecem programas para avaliar respostas escritas, e quatro estados — Louisiana, Dakota do Norte, Utah e Virgínia Ocidental — já usam algum tipo de tecnologia em escolas de ensino médio. Outro estado, Indiana, já experimentou o software, em alguns casos como “segundo leitor”, para checar a confiabilidade de avaliadores humanos.</p>
<p>Mas a crescente influência da EdX parece ter ajudado a impulsionar a tecnologia. Na terça-feira, a Universidade de Stanford anunciou que vai trabalhar com a empresa no desenvolvimento de um sistema educacional que incorpora a tecnologia de correção automática. As startups Coursera e Udacity, fundadas recentemente por membros de Stanford para criar “Cursos Abertos Online em Massa” (ou MOOC, Massive Open Online Courses, na sigla em inglês), também utilizarão o sistema devido às respostas instantâneas.</p>
<p>— Isso permite que os estudantes recebam um retorno imediato sobre o seu trabalho, o que faz da aprendizagem um jogo, com os alunos naturalmente refazendo uma tarefa até aprendê-la — explica a pesquisadora Daphne Koller, fundadora da Coursera.</p>
<p>No ano passado, a Fundação Hewlett, uma organização concessora de subsídios, ofereceu dois prêmios de US$ 100 mil a softwares de avaliação de redações e respostas escritas. Mais de 150 grupos se inscreveram em cada categoria. Um dos vencedores, Vik Paruchuri, foi contratado pela EdX para ajudar no desenvolvimento do seu software.</p>
<p>— Um dos nossos focos é ajudar crianças a aprender a pensar criticamente. É provavelmente impossível fazer isso com testes de múltipla escolha. O desafio é que isso requere avaliadores humanos, o que custa mais e demanda mais tempo — argumenta Victor Vuchic, responsável pelo programa da Fundação Hewlett.</p>
<p>Mark D. Shermis, professor da Universidade de Akron, em Ohio, supervisionou o concurso da Fundação Hewlett e escreveu sobre o experimento. Para ele, a tecnologia, apesar de imperfeita, tem seu lugar na configuração educacional.</p>
<p>Ele defende que, com classes cada vez maiores, é impossível para grande parte dos professores dar um retorno substancial sobre os trabalhos de seus alunos. Além disso, acrescenta, críticos da tecnologia tendem a vir das melhores universidades dos Estados Unidos, onde o nível pedagógico é maior do que na maioria das escolas.</p>
<p>— Geralmente eles vêm de instituições de prestígio onde, de fato, os professores fazem um trabalho muito melhor do que qualquer máquina poderia fazer. Parece haver uma falta de conhecimento sobre o que realmente está acontecendo no mundo real — defende Shermis.</p>
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