Pesquisadores da UFRN querem usar robôs de R$ 40 para educar crianças

Felipe GibsonDo G1 RN – 29/05/2013 

Diferencial do N-Bot é a troca do processador por aparelhos como celulares.

Projeto venceu concurso na África e será usado em escolas públicas do RN.

 Uso do celular para processar dados barateia a montagem do robô (Foto: Felipe Gibson/G1)Robô educacional N-Bot será utilizado nas escolas públicas de Natal (Foto: Felipe Gibson/G1)

Pesquisadores do laboratório NatalNet, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte(UFRN) criaram um protótipo de robô para auxiliar crianças a aprender disciplinas como português, matemática e geografia que pode ser construído com R$ 40. O N-Bot, como é chamado, pode ser operado a partir de qualquer aparelho eletrônico que emita sons, como celular, MP3 ou computador. A intenção dos pesquisadores é disseminar o uso do protótipo em aulas nas escolas públicas do estado. Instituições de ensino da África já possuem manuais de montagem do robô educacional feitos para crianças.

Idealizador do projeto, o professor do Instituto Metrópole Digital (IMD) e integrante do NatalNet, Rafael Vidal Aroca, explica que o robô pode ser utilizado em atividades simples como o desenho de formas geométricas nas aulas de matemática. “É colocado um lápis na estrutura do robô e a própria criança programa o protótipo para fazer os desenhos”, afirma. Para aulas de geografia, o pesquisador conta que os robôs podem ser programados para percorrer distâncias entre cidades nos mapas. As práticas buscam aliar o ensino das disciplinas com a robótica.

De acordo com o professor da Escola de Ciência e Tecnologia (ECT) e também integrante do NatalNet, Aquiles Burlamaqui, o diferencial do N-Bot está no processador do protótipo. “O que torna os robôs caros é a peça que faz o processamento deles, uma espécie de CPU dos robôs. Queriamos substituí-lo por algo que estivesse ao alcance das pessoas, no bolso. É aí que entram os telefones celulares, já que atualmente existem mais linhas do que pessoas. Pensamos então em como torná-los unidades de processamento”, afirma.

A possibilidade de construir um robô educacional mais barato surgiu de uma conversa entre os pesquisadores Aquiles e Rafael. “Resolvemos tirar o computador do robô e colocar um celular, algo que todo mundo tem. Digamos que é um protótipo sem processamento ou inteligência”, informa Rafael Aroca. Simples e barato, o circuito utiliza sinais de áudio para controlar e movimentar os robôs.

Aroca detalha que o controle dos robôs pode ser feito de diversas formas. (veja o vídeo ao lado). Além do controle manual, feito com cliques nas teclas do celular acoplado ao corpo do robô, mais um mecanismo é telefonar para o aparelho do protótipo e controlá-lo com outro telefone. Em aparelhos com reconhecimento de voz, o N-Bot obedece comandos falados. O detalhe é que os dois telefones precisam estar conectados na mesma rede de internet.

“O controle também pode ser feito com programas que emitam som”, acrescenta o idealizador do N-Bot, que lembra a possibilidade de utilizar tablets, MP3 e computadores na operação.

Se os protótipos são baratos enquanto construídos individualmente, a expectativa dos pesquisadores é baixar ainda mais o custo quando a produção acontecer em larga escala. “A faixa de R$ 40 que utilizamos é para montar uma unidade comprando os produtos no Alecrim – bairro comercial da zona Leste de Natal. O motor, por exemplo, custa R$ 18. Se comprarmos uma caixa com 200 deles o preço cai para R$ 9 cada um”, especifica Aroca.

Versão ecológica do N-Bot (Foto: Felipe Gibson/G1)Versão ecológica do N-Bot (Foto: Felipe Gibson/G1)

Robótica educacional
Os estudos sobre robótica educacional do laboratório NatalNet começaram em 2005 “O conceito é utilizar o robô como ferramenta didática para auxílio em diversas disciplinas, como português, matemática e geografia”, explica Aquiles. De acordo com o professor, o efeito lúdico da robótica é fundamental. “A criança enxerga o robô como um brinquedo. Ela faz a atividade como se estivesse brincando”, reforça.

Os pesquisadores do NatalNet lembram que o custo sempre dificultou o desafio de levar os robôs para dentro das escolas. “Não é um artefato barato. Um dos que estão no laboratório, por exemplo, custa US$ 12 mil. Já os kits educacionais mais baratos custam em torno de R$ 2 mil. Distribuir isso em escolas públicas não é simples”, acrescenta. O N-Bot pode mudar esse panorama.

Da África para escolas públicas de Natal
Os resultados do projeto já apareceram no ano passado, quando o N-Bot foi aprovado para ser aplicado em escolas africanas. Na ocasião, o robô foi um dos protótipos escolhidos em um concurso promovido pela Rede Africana de Robótica (AFRON, na sigla em inglês). “Eles já possuíam um kit educacional de R$ 2.000 que passava um dia em cada escola africana. O objetivo do concurso era ter protótipos em todas as escolas”, conta Aroca, que elaborou manuais didáticos para alunos africanos montarem seus próprios robôs.

Pesquisadores da UFRN Rafael Aroca, Luiz Marcos Garcia Gonçalves e Aquiles Burlamaqui (Foto: Felipe Gibson/G1)Pesquisadores Rafael Aroca, Luiz Marcos Garcia Gonçalves e Aquiles Burlamaqui (Foto: Felipe Gibson/G1)

Apesar do reconhecimento fora do país, o pesquisador Aquiles Burlamaqui revela que a preocupação maior do projeto é com o Brasil. O grupo conseguiu um financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do RN (Fapern) e concederá 40 bolsas para universitários, professores do ensino médio e alunos de escolas públicas. A ideia é promover aulas de robótica educacional em instituições de ensino da rede pública estadual.

Robô educacional N-Bot será utilizado nas escolas públicas de Natal (Foto: Felipe Gibson/G1)Robô educacional N-Bot será utilizado nas escolas
(Foto: Felipe Gibson/G1)

“Estamos fazendo versões do protótipo para as escolas públicas. Vamos utilizar a parte eletrônica do N-Bot e os alunos vão montar o robô estruturalmente”, detalha. Os pesquisadores querem elaborar um kit de montagem para ser distribuído. O projeto está atualmente na fase de cadastramento das equipes. Além do projeto junto a Fapern, o grupo esteve em Brasília no começo do mês para apresentar o N-Bot no Ministério do Esporte. “A intenção é vender o produto como brinde na Copa do Mundo. Um robô jogador de futebol”, explica Aroca.

2 Comments to “Pesquisadores da UFRN querem usar robôs de R$ 40 para educar crianças”

  1. Além de deixar a robótica mais acessível é um belo projeto reutilizando celulares antigos.

  2. Olá boa tarde. Sou Lucicleide , professora da segunda série de uma escola pública da cidade de São Miguel do Gostoso, interior do estado. Essa semana que se passou tive o prazer se ser convidada por um alguns alunos meu a estudar robótica, mas cursei apenas Letras e não tenho conhecimento alguma sobre robótica, se pudessem vir executar alguma projeto na minha sala de aula seria um prazer .

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