Pela web, uma revolução na educação

Filipe Serrano, Ligia Aguilhar – O Estado de S.Paulo – 24 de junho de 2013 

Foi para aprofundar o conhecimento em legislação e comércio internacional que o estudante de Contabilidade Nicolas Sousa decidiu explorar uma nova forma de aprendizado que tem atraído cada vez mais brasileiros na internet. Sites que reúnem cursos online gratuitos – como o Coursera, Udemy, EdX, Udacity e o brasileiro Veduca – estão expandindo a oferta de cursos de renomadas universidades não apenas do Brasil, mas principalmente dos Estados Unidos e da Europa.

O curso escolhido por Nicolas Sousa (A legislação da União Europeia: Uma Introdução) é dado por um professor de Direito da Universidade de Leiden, na Holanda. “Trabalho em uma gestora de fundos de investimento e achei interessante aprender mais sobre legislação, comércio e finanças, além de praticar o inglês”, diz Sousa, que estuda na USP.

As aulas são dadas no Coursera, um dos sites pioneiros na área. Segundo o fundador, Andrew Ng, em abril o Brasil era o quarto país em número de usuários (4% do total). “Houve um crescimento de 167% na quantidade de brasileiros nos últimos seis meses”, disse ele ao Link (leia entrevista abaixo).

A presença do País também é percebida por outros. “Os brasileiros são a terceira maior demografia de cursos online, mostrando um grande apetite por conteúdo educacional”, disse Amin Saberi, cofundador do NovoEd, plataforma que reúne aulas da Universidade Stanford, principal instituição do Vale do Silício.

É para atender a esta demanda por uma educação de qualidade que surgem também no Brasil sites especializados nos chamados Moocs (sigla em inglês para “cursos online abertos e massivos”).

O professor e pesquisador João Mattar foi o pioneiro. No ano passado, criou com o professor Paulo Simões um curso com a proposta de estudar e reconstruir a história da Educação a Distância. A experiência bem-sucedida abriu espaço para uma segunda aula, de Língua Portuguesa. “Fizemos um teste para ver o interesse das pessoas e fomos surpreendidos. Tivemos 5 mil inscrições”, diz.

O site Veduca lançou recentemente dois cursos do tipo (Física Básica e Probabilidade & Estatística) em parceria com professores da USP. O Veduca foi criado no ano passado pelo engenheiro Carlos Souza e reúne videoaulas de diversas universidades.

Agora o objetivo é lançar pelo menos outras dez disciplinas de professores brasileiros até o fim do ano, incluindo na área de Humanas. “Colocamos conteúdos mais adequados às necessidades brasileiras, que prepararam profissionais para os setores da economia com falta de qualificação”, diz Souza. Segundo ele, os cursos tiveram 6 mil inscritos, acima da expectativa de 5 mil.

O professor titular Vanderlei Bagnato, do Instituto de Física da USP de São Carlos (SP), é o responsável pelo curso de Física no Veduca e mostra entusiasmo com o formato. Para ele, profissionais e pesquisadores que dependem de conhecimentos de outras áreas são beneficiados. “Seria extremamente útil que os ciclos básicos das universidades estivessem disponíveis online”, afirma Bagnato, que também é coordenador da Agência USP de Inovação.

Definição. Pelo menos desde 2001 a internet é usada para hospedar aulas online em vídeo, quando o Massachusetts Institute of Technology (MIT) criou um programa para distribuir o material na web. O modelo também foi adotado pela Apple no iTunes U e por outros sites que hospedam videoaulas. A USP também tem um site do tipo, o eAulas.

Mas o formato de cursos para a web é novo e virou oportunidade de negócio para empreendedores da área de tecnologia. Por causa disso, o jornal The New York Times disse que 2012 foi “o ano dos Moocs”.

O que define um Mooc é que o curso, além de gravado em vídeo, está disponível gratuitamente para milhares de usuários. Em alguns casos, há certificados de conclusão.

Por causa da variedade e da facilidade, as pessoas têm visto neles uma forma de estudar áreas diferentes. “Hoje é preciso adquirir novas habilidades o tempo todo para poder resolver problemas. Nesse cenário, os Moocs abrem a possibilidade de você se atualizar”, diz Martha Gabriel, autora do livro Educ@r.

Outro ponto alto é a possibilidade de se relacionar em escala global. “Os alunos vêm de vários países, têm perfis e profissões diferentes. As comunidades se reúnem em fóruns e redes sociais”, diz a pesquisadora Juliana Marques, que criou o blog Mooc Experience como parte de seu mestrado na Universidade de Amsterdã.

Para Steve Joordens, professor do curso de Introdução à Psicologia, do Coursera, o alto interesse dos alunos é positivo. Porém, há desafios para que o modelo se firme. “Para aproveitar, você tem de valorizar o aprendizado pelo aprendizado. Mas algumas pessoas não veem um benefício concreto em troca”, diz.

Para Juliana Marques, também é preciso melhorar a forma de ensino. “Muitos alunos reclamam que não conseguem acompanhar tudo. E outro problema é que muitos professores ficam inacessíveis.”

À medida que os Moocs evoluírem, os problemas devem ser amenizados. “Uma vez que os professores percebam que é possível ensinar pela web, a demanda por Moocs vai aumentar”, diz Saberi, do NovoEd.

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