Investir em educação é resposta às crises

O Povo online – 16/11/14

“A valorização do capital humano de uma nação é determinante para o seu sucesso econômico de longo prazo e é um recurso que deve ser investido de forma eficiente para gerar retornos”

João Bosco Monte
Presidente do Instituto Brasil África;
Pós Doutorado em Relações Internacionais

O conforto e a comodidade destes tempos de globalização onde o mundo está cada vez mais uniforme suscita nas pessoas o desejo de ter acesso a todos às comodidades e recursos que o Estado deve proporcionar. Neste sentido, metrópoles em expansão como Nova Deli, Johanesburgo ou São Paulo apresentam uma necessidade quase inesgotável de novas e melhores rodovias, sistemas de esgotamento sanitário mais eficiente, tratamento de agua, portos, aeroportos, escolas, hospitais, habitação e tantas outras obras de infraestrutura.

Para planejar, construir e manter essa infraestrutura, são necessários investimentos na educação e formação e planejamento de talentos dentro das empresas, juntamente com outras medidas destinadas a atrair e reter o talento nacional e internacional. No ano passado, a Pesquisa sobre Escassez de Talentos, elaborada pela empresa Manpower Group descobriu que 45% dos empregadores da Ásia-Pacífico tiveram dificuldade em preencher vagas de trabalho devido à falta de talento disponível.

Na Índia, 67% dos empregadores relataram dificuldade, contra uma média global de 34%. No Brasil, 57% dos empregadores disseram ter dificuldades em preencher posições. No México, o número era de 42%. O documento afirma ainda que aproximadamente três quartos dos empregadores no mundo citaram a falta de experiência, habilidade ou conhecimento como a principal razão para contratar trabalhadores qualificados.

Que leitura pode ser feita a partir destes dados? O Estado precisa definir que os investimentos em educação – em todos os níveis- são a alternativa para o desenvolvimento sustentável e duradouro da nação, principalmente se consideramos que a economia globalizada de hoje exige trabalhadores bem educados, capazes de executar tarefas complexas e facilmente adaptáveis às crescentes necessidades dos sistemas de produção.

Recordo que no início deste ano, o Banco Asiático de Desenvolvimento divulgou um relatório onde “profetizou” que a Ásia seria o líder econômico mundial no futuro e que o continente até 2050 deteria 51 por cento do PIB mundial. Além disso, os asiáticos gozariam do mesmo padrão de vida dos europeus. O mesmo documento, de forma lúcida, afirma a promessa somente será cumprida se houver investimentos em educação que os governos podem cair numa armadilha, se a força de trabalho não tiver as competências e habilidades necessárias para inovar.

Como chegar a esta conclusão? Vejamos alguns dados: Cerca de 16 milhões de crianças na Ásia não terminam a escola primária. No Camboja, quase metade das crianças não conseguem concluir o ensino médio, enquanto um terço não faz pós-graduação em Bangladesh e Nepal. Em contraste, as estatísticas dos os países mais bem-sucedidos da região, tais como

Cingapura, Japão e Coreia do Sul, confirmam que quase todas as crianças completam a educação, pelo menos até o nível do ensino secundário.

De fato, a valorização do capital humano de uma nação é determinante para o seu sucesso econômico de longo prazo e é um recurso que deve ser investido de forma eficiente para gerar retornos, para os indivíduos envolvidos, bem como uma economia como um todo. No plano econômico, a abertura do comércio e o trânsito para a sociedade da informação faz que as sociedades nacionais dependam cada vez mais de sua competitividade externa e esta, por sua vez, da incorporação de inteligência e conhecimento renovado ao sistema produtivo.

No âmbito social, uma sociedade com bons resultados educativos, e estendidos para a massa de sua população, tende a ser mais igualitária em sua estrutura de rendimentos, trazendo impacto positivo nas instâncias de decisão. Uma sociedade educada também tende a contar com maior coesão social e a crescer economicamente sobre a base de melhoras em produtividade e riqueza e renda.

Sobre a distribuição de renda, a situação é especialmente crítica na América Latina e o Caribe, pois é a região com a distribuição de rendimentos mais desigual no mundo. Seguindo este raciocínio, no passado mês de setembro, mais de 900 economistas e líderes de organizações internacionais reunidos em Washington por ocasião da 17ª Conferência Anual do Banco de Desenvolvimento da América Latina identificaram que a América Latina precisa transformar seus setores produtivos e parar de depender de condições econômicas externas favoráveis para alcançar um desenvolvimento sustentável e duradouro.

Segundo o presidente da instituição, Enrique Garcia, para alcançar este objetivo “a América Latina precisa investir mais em educação, tecnologia e infraestrutura por meio do desenvolvimento tecnológico e dos investimentos em capital humano”.

De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apesar de que na última década, mais de 50 milhões de pessoas na América Latina ascenderam à classe média, o quadro de desigualdade permanece extremamente elevado em toda a região.

Assim, é urgente a necessidade de uma estratégia para promover a inclusão social e a redução da pobreza e a promoção de uma distribuição mais equitativa da riqueza. Mais que isso, compreender e tratar desafios relacionados ao capital humano é, portanto, essencial para o crescimento de longo prazo, a prosperidade e a competitividade das nações.

Por outro lado, não é concebível improvisar quando o futuro de gerações está em jogo. Para fazer face a uma crise econômica sem precedentes, a União Europeia criou em 2010 o programa o Europa 2020 como estratégia para fomentar o crescimento e o emprego. A lógica subjacente é que a Europa tem de competir na economia global através de uma força de trabalho altamente produtivo, de classe mundial de P&D, tecnologia de ponta e desenvolvimento de novos produtos.

A estratégia Europa 2020 identificou a educação como um motor essencial para o crescimento e um instrumento fundamental para a abordagem de questões como o desemprego (sobretudo entre os jovens), a globalização e a economia do conhecimento.

Não é preciso inventar e a verdade é que não se conhece nenhum caso onde as finanças públicas de uma nação tenham quebrado por investir prioritariamente em educação.

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