Feira de ciências e engenharia mostra criatividade dos estudantes brasileiros

Portal da USP – O Estado de São Paulo – 12/03/2013 – São Paulo, SP

Um copo biodegradável comestível, um tijolo sustentável, um protótipo que auxilia o movimento de pacientes que sofrem de Mal de Parkinson e até mesmo um tênis capaz de gerar energia a partir do movimento. Esses são alguns dos projetos expostos na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), da qual participam alunos do ensino fundamental e médio.

A feira, que está em sua 11.ª edição, é realizada anualmente nas dependências da Escola Politécnica (Poli) da USP, na Cidade Universitária, e visa a estimular nos jovens o gosto pela ciência, criatividade e inovação. Os 330 projetos expostos são de alunos de todo o País. Eles competem em sete áreas de interesse (Exatas e da Terra, Biológicas, Agrárias, Saúde, Sociais, Humanas e Engenharia) e concorrem a vários prêmios, entre eles a participação na Feira Internacional de Ciências e Engenharia da Intel (Intel Isef), prevista para maio, no Arizona (EUA).

Para avaliar os projetos são levados em consideração 12 critérios (atitude científica, habilidades, criatividade e inovação, profundidade, aplicação do método científico, relatório, diário de bordo, pôster, apresentação oral, empreendedorismo, relevância social e trabalho em grupo). Segundo Irene Ficheman, responsável pelo núcleo dos avaliadores, o aluno aprende mais quando se interessa pelo tema. “Nós acreditamos que, quando o aluno escolhe um tema e pesquisa sobre esse tema, ele se apropria disso. Ele aprende mais, ele aprende a fazer relatórios, a procurar bibliografia, a investigar. E isso o torna mais preparado para o ensino superior”, afirma.

Para Roseli de Deus Lopes, coordenadora da feira e professora da Poli, a Febrace representa a consolidação de um trabalho, mas ainda deve se expandir para atingir mais professores e alunos. “Um dos pontos altos da feira é mostrar que há grandes talentos advindos de todo Brasil.”

Sustentabilidade

Embora haja muitas áreas de pesquisa, alguns temas acabam sendo mais recorrentes entre os projetos. A busca por iniciativas sustentáveis, por exemplo, tem sido uma grande aposta dos expositores. Os jovens pernambucanos Willians Francisco da Rocha e Anna Rebeca Fonseca Seabra desenvolveram uma solução para o cenário degradante de excesso de lixo que os vendedores ambulantes de caldo de cana-de-açúcar deixam no chão. A equipe conseguiu fazer um tijolo utilizando o bagaço da cana descartado. Testes realizados mostraram que o tijolo sustentável possui a mesma resistência a compressão, umidade e calor que o tijolo convencional, mas com o benefício de ser mais barato.

Outra equipe que foi capaz de transformar um problema em uma saída ecológica foi a dos gaúchos Tainá de Vargas, Érico de Oliveira e Lisiane Oestraich. Observando o grande desperdício de copos descartáveis em sua escola, os jovens criaram um copo biodegradável comestível. “O projeto é uma saída viável para a problemática do descarte de copos e a gente pretende dar continuidade para que possa resultar em uma possível comercialização”, diz Tainá.

Energia

Inspirados pelo movimento da ONU, que no ano passado realizou o Ano Internacional da Energia Sustentável, um grupo de amigos do Rio Grande do Sul resolveu criar um método viável de fabricação de energia.

“A ideia era achar uma forma barata que pudesse gerar eletricidade”, conta Leomar Radke. O projeto dos meninos consiste, basicamente, em utilizar tênis para comprimir cristais e, com isso, gerar um diferencial de potencial elétrico, ou seja, energia. O protótipo tem um custo barato, já que pode ser implantado em qualquer par de tênis. O custo real dos cristais não ultrapassa R$ 3.

O tênis foi bem sucedido e teve um pico de 10 volts produzidos. O problema a ser solucionado agora consiste em como armazenar a energia. Mas os próprios cientistas mirins reconhecem seu feito como uma solução viável para o problema de energia, e consideram que utilizar os cristais comprimidos em locais de fluxo intenso – seja de automóveis ou de pessoas – é uma forma de reduzir os custos em energia.

Vida simples

Os mineiros Guilherme Ribeiro, Eduardo Padinha e Alisson Augusto desenvolveram um protótipo que busca auxiliar a locomoção de pacientes que sofrem com o Mal de Parkinson. A ideia surgiu de uma pesquisa feita com uma fisioterapeuta, quando se pôde notar que os pacientes de idade avançada e com Parkinson apresentavam sérias dificuldades para andar. O dispositivo, que custa cerca de R$ 60, tem lasers que indicam onde o paciente deve pisar.

Ainda no quesito de promover facilidades para o cotidiano, um grupo de amigos cariocas cansados de ouvir queixas – e se queixarem – sobre objetos perdidos elaboraram um dispositivo que emite um sinal quando supera certa distância máxima permitida, indicando onde está o objeto perdido. O projeto, que ficou conhecido como Carteira Antiperda, funciona com dois dispositivos, um transmissor e um receptor de sinais.

Música

O baiano Arismário Araújo Júnior sempre gostou muito de tocar guitarra, e movido por seu interesse resolveu dar aulas para crianças. Contudo, um problema era frequente nas aulas: a dificuldade de coordenação motora.

Decidido a ensinar música para as crianças a qualquer preço, o baiano desenvolveu uma guitarra com materiais recicláveis e com conexão USB que simula os movimentos dos acordes e da rítmica com o auxílio de um jogo na internet. O protótipo fez sucesso entre as crianças e ajudou a popularizar o instrumento pode ser utilizado tanto em computadores quando em videogames. Apesar de reconhecer seu protótipo como pioneiro, já que há não registros de nenhuma guitarra feita de materiais reciclados anteriormente, Arismário não possui metas maiores por enquanto. “Eu pretendo apresentar meu trabalho e conhecer os outros projetos que estão expostos. Não tenho grandes expectativas porque essa é a minha primeira vez na feira.”

Serviço

A Febrace termina na quinta-feira, 14. O espaço fica aberto das 9h ao meio-dia e das 14h às 19h. O acesso é gratuito. Mais informações no site www.febrace.org.br.

Formado na Rússia, médico vai gastar R$ 10 mil para validar diploma

Cláudia Emi Izumi – UOL Educação – 13/03/2013 – São Paulo, SP

Dez mil reais é a quantia que Diego Marques Fontes Muritiba, 27, terá de pagar pela tradução juramentada de documentos e cópias que comprovam a graduação em medicina na Rússia.

O brasileiro tem um dossiê de 53 páginas que detalha, de maneira minuciosa, o conteúdo curricular do curso de seis anos na Universidade Estatal de Kursk, onde se formou no primeiro semestre de 2012. É com esse dossiê que pretende garantir seu direito à revalidação do diploma no país.

Há duas formas de revalidar no Brasil o diploma de medicina obtido em instituição de ensino superior estrangeira. Uma delas é pelo Revalida, exame que pede inicialmente uma cópia do diploma emitido pela universidade estrangeira e mais a aprovação em provas teóricas e práticas que são realizadas em duas fases.

A checagem da documentação ocorre só depois e a tradução, dispensada para diplomas emitidos em países de língua espanhola, é exigida para outros idiomas. No caso de Muritiba, é em russo, o que torna a tradução mais cara do que as demais.

O segundo processo para revalidar o diploma médico é por meio de 38 universidades federais. A revalidação ocorre também em duas etapas, além do envio de tradução juramentada de documentos, entre outros requerimentos que variam de acordo com a instituição escolhida.

Gastos elevados

Muritiba tentará o Revalida neste ano, mas não vai depositar todas as suas esperanças no exame. Paralelamente, pedirá o reconhecimento do diploma de médico nas universidades federais.

Casado com uma russa, que migrou com ele para o Brasil, Muritiba não tem o registro profissional que o permite trabalhar como médico no Brasil porque seu diploma precisa ser reconhecido primeiro. Esse é o mesmo cenário em que muitos outros brasileiros vivem por terem se formado em medicina em universidade estrangeira.

Desde que voltou ao país, logo após a formatura em 2012, Muritiba passa os dias estudando. Diariamente, dedica de oito a dez horas para os livros e frequenta um cursinho de residência como meio de se preparar para o Revalida.

As taxas de inscrição do exame custam R$ 100 (1° fase) e R$ 300 (2° fase). Já nas universidades federais, o valor é bem superior. Desembolsa-se aproximadamente R$ 1.000 para um único processo de revalidação de diploma (R$ 400 na 1° fase e, se passar, mais R$ 600 na 2° fase). Muritiba se inscreverá em pelo menos três instituições de ensino.

Os gastos não se limitam às inscrições. Morador em São Paulo e com provas em outros Estados, terá ainda de arcar com transporte e pernoite nas cidades onde as provas são marcadas.

Bolsa de estudos

Em 2005, Muritiba morava na cidade de Salvador. Naquele ano, tentou o vestibular para medicina na UFBA (Universidade Federal da Bahia) e não passou.

Já considerava prestar em instituição paga, mas, para sua surpresa, foi selecionado para a bolsa de estudos na Rússia, país onde o termômetro pode chegar a -30°C. A bolsa cobriria os cerca de US$ 3 mil anuais do curso, mais US$ 1.500 mensais para moradia.

Antes de iniciar a graduação, ele passou por um período de preparação. Teve aulas de biologia e química e estudou russo durante um ano. Hoje há universidades com a opção de se estudar em inglês, mas na minha época não tinha isso.

Para ele, as provas do Revalida levam muito em conta o SUS (Sistema Unificado de Saúde). O meu problema atual é traduzir o aprendizado na Rússia para as diretrizes brasileiras. Mas tenho total confiança na bagagem que trouxe da Rússia. Acredito que vou passar, diz.

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