Entrega do primeiro livro do novo modelo de PNLD em 1996. Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil à direita. No microfone, Paulo Renato então ministro da educação. À esquerda, junto a membros do mercado editorial, de terno claro, José De Nicola, presidente da Abrale. Palácio do Planalto, Brasília.

Sumário:
Entrevista com Sônia Lopes (autora de ciências)
Entrevista com Luiz Márcio Imenes (autor de matemática)
Entrevista com Gislane Azevedo (autora de história)
Entrevista com Eustáquio de Sene (autor de geografia)
Vídeo de Cibele Lopresti Costa sobre a relação dos livros didáticos e as metodologias ativas
Vídeo de José de Nicola sobre a presença do livro didático na vida dos brasileiros
Boletins históricos da Abrale

Entrevistas com autores:

Sônia Lopes (autora de ciências)

No começo de minha carreira, tive a sorte de ter um exemplo em casa: meu pai, Plínio Carvalho Lopes. Acompanhei de perto sua carreira e trabalho com os livros, com muita admiração. Passei a auxiliá-lo com os livros e fui assumindo autonomia. Publiquei inicialmente com ele e depois como autora independente, mas até hoje, felizmente, ele está ao meu lado, como meu grande amigo e professor.

Embora meu ofício tenha passado por transformações ao longo de minha carreira, eu diria que algumas coisas não mudaram, como o estudo constante para a elaboração do material, o cuidado com o texto, com as imagens e com a produção total do livro, além dos materiais que acompanham a obra. O que sinto é um aumento na quantidade e na complexidade do trabalho em função dos editais do PNLD, gerando novos desafios, ampliados com o surgimento dos livros digitais. Isso tem gerado maior necessidade de parcerias. Tanto os autores quanto as editoras têm de se reinventar e, ainda, no mercado particular, a tendência de migração do material impresso para o ambiente digital também está mudando a forma de o autor trabalhar. Tenho vivido essa experiência do “Digital First” há algum tempo, mas sinto que tenho muito ainda a aprender. Para mim, tudo é estímulo para continuar com meu trabalho autoral, pois sempre gostei de trazer inovação para as obras.

Os livros educativos são materiais de apoio ao trabalho do professor e uma fonte de estudos para os estudantes. Creio que não apenas as minhas obras, mas as de todos os demais colegas autores de Ciências e de Biologia trazem propostas de trabalho que valorizam a formação científica e crítica dos educandos. Tenho orgulho de participar da formação dos estudantes ao lado de outros autores de excelência, cada um com sua proposta pedagógica, mas todos com grande qualidade.

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Luiz Márcio Imenes (autor de matemática)

Desde que comecei a dar aulas particulares, em 1961, habituei-me a redigir notas de aula que, aos poucos, foram ganhando substância. A partir de 1965, nos cursos em que atuava, comecei a redigir apostilas, que serviram de base para a elaboração do Curso Abril Vestibular, publicado em 1973, na companhia de dois colegas. Por conta desse trabalho, fomos convidados pela Editora Moderna, recém fundada, para escrever uma coleção didática dirigida a estudantes do 2º grau (atual Ensino Médio). Depois, outras oportunidades foram surgindo: telecursos, revistas, paradidáticos, materiais para formação de professores, didáticos para Ensino Fundamental… e nunca mais parei. Meu percurso de autor não foi um caminho traçado previamente: as oportunidades foram acontecendo, surgindo aos poucos.

Escrever é sempre difícil; esse era e continua sendo um grande desafio.

Quanto às transformações do ofício do autor, são muitas. Ao longo desses anos, a produção do livro didático passou de quase artesanal a industrial. Aumentaram muito as exigências: o livro do aluno é acompanhado do manual do professor que, na verdade, é outra obra; há os objetos digitais; além de contemplar a BNCC, é preciso tratar dos Temas Contemporâneos Transversais; é comum o autor participar também da divulgação da obra; muitas escolas pedem o auxílio do autor na implantação da proposta. Atender a todas essas demandas requer dedicação total e muita disposição física!

Na companhia de Marcelo Lellis, produzimos o livro didático com base nos saberes gerados no campo da Educação Matemática. Esse princípio leva a proposta inovadora, que exige da escola e do professor disposição para romper paradigmas equivocados, herdados da escola do passado. Esse processo de mudança é lento, encontra muitas resistências, mas também boas adesões ao longo do caminho.

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Gislane Azevedo (autora de história)

Abrale: Como ingressou na carreira de autor de livros educativos?

Comecei com o Cândido Granjeiro – na época, editor na Ática – elaborando atividades para livros do professor e fazendo leitura crítica. Depois, o João Guizzo, diretor editorial, me convidou para fazer um projeto de livro de História para Ensino Médio. Aprendi muito com ele, editor da “velha guarda”, que pega seu material, rabisca, questiona, ensina, cobra.

Abrale: Quais desafios enfrentava no início da carreira e quais enfrenta hoje? Comente as transformações do ofício ao longo da carreira.

O conhecimento do passado é um campo de embate. Decidir o que deve ser lembrado, comemorado, questionado ou esquecido está diretamente ligado à disputa de poder no presente. Por exemplo: por que a Marinha não quer João Cândido – um marinheiro pobre e negro, que liderou uma revolta contra castigos físicos em 1910 – esteja no livro de Heróis da Pátria?

Quando você escreve livros didáticos mostrando uma perspectiva que vai além da ideia de valorizar feitos, heróis e datas, isso é considerado “ideológico” por parte da sociedade. É como se ideologia só fosse para uma vertente dos fatos e das ideias. Nas últimas décadas, não passa ano sem que autores de História sejam expostos a acusações e perseguições infundadas, sem que haja lista de livros “proibidos”; sem que surjamprojetos de lei que visam criminalizar autores e professores. O passado é realmente é um campo de batalha do presente.

Abrale: Qual a contribuição de seus livros para a prática pedagógica de sua disciplina?

Uma obra didática é resultado de seu tempo. Nesse sentido, incorporamos muito do que “está aí”, como o uso das imagens para a construção dos capítulos. Nesta sociedade imagética em que vivemos, partir das imagens para abordar questões da disciplina de História é um recurso didático útil e atraente. Também usamos a História para promover a reflexão do presente. Por meio da disciplina trazemos questões como direitos das minorias sociais, questões ambientais, poder da mídia e outros assuntos contemporâneos.

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Eustáquio de Sene (autor de geografia)

Ser autor de livros educativos é decorrência do trabalho docente. Ainda na FFLCH-USP comecei a dar aulas de Geografia em escolas públicas e fui me formando professor. Quase no final do curso ingressei no Stockler Vestibulares. Nesse cursinho, onde dei aulas por dez anos, os professores escreviam o próprio material didático. Por um tempo seu coordenador foi o José Carlos Putnoki, o saudoso Jotinha, também autor na Editora Scipione. Certo dia disse-me que escrevia bem e instigou-me a publicar um livro didático. Algumas semanas depois, eu e o João, com quem dividia as turmas, ousamos apresentar um projeto na Scipione. Alguns anos depois nasceu o livro Geografia Geral e do Brasil, para estudantes de ensino médio. Não fosse o estímulo do Jotinha nunca teria me tornado autor. Depois do GGB, como ficou conhecido esse livro pioneiro, fiz muitos outros com diversos coautores.

No início da carreira o maior desafio era obter informações dispersas em variadas fontes e organizar o conhecimento da Geografia escolar de forma atraente e didática para jovens estudantes. O GGB, lançado em 1998, foi escrito numa era pré-internet, pré-Google, que hoje facilitam muito a pesquisa. Atualmente a maior dificuldade é ter que se adequar aos editais do PNLD, cada vez mais diretivos e complexos. Escrevi meu primeiro livro tendo como referência apenas minha prática docente. Sinto que hoje somos cada vez menos autores e cada vez mais cumpridores de editais.

Creio que o melhor termômetro da contribuição de um livro para a prática pedagógica é sua aceitação pelos professores. Mas depois que um livro educativo começa ser utilizado, os professores tornam-se um pouco coautores. Em minhas andanças pelo Brasil tive a oportunidade de dialogar com diversos professores, que, com suas críticas e sugestões, muito enriqueceram minhas obras. O livro educativo almeja melhorar o trabalho dos professores e a prática docente melhora o livro. Trata-se de uma relação de mão dupla, de enriquecimento recíproco.

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Série de vídeos:

Cibele Lopresti Costa – relação dos livros didáticos e as metodologias ativas

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José de Nicola – presença do livro didático na vida dos brasileiros

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Confira também a série histórica dos boletins da ABRALE (originais impressos entre 2000 e 2011)

BOLETIM NO. 35, de março de 2011
BOLETIM NO. 34, de novembro de 2009
BOLETIM NO. 33, de março de 2009
BOLETIM NO. 32, de setembro de 2008
BOLETIM NO. 31, de novembro de 2007
BOLETIM NO. 30, de fevereiro de 2007
BOLETIM NO. 29, de junho de 2006
BOLETIM NO.25, de junho de 2004 
BOLETIM NO. 24, de março de 2004 
BOLETIM NO. 23, de dezembro de 2003  
BOLETIM NO. 22, de setembro de 2003  
BOLETIM NO. 21, de maio de 2003  
BOLETIM NO. 20, de agosto de 2002 
BOLETIM NO. 19, de março de 2002 
BOLETIM NO. 18, de novembro de 2001  
BOLETIM NO. 17, de julho de 2001  
BOLETIM NO. 16, de maio de 2001  
BOLETIM NO. 15, de setembro de 2000  
BOLETIM NO. 14, de julho de 2000 

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